quarta-feira, maio 14, 2008

Criança herege

Começo de 2001, eu notei que todos os amiguinhos do prédio pararam de descer pra brincar aos sábados, me sentindo sozinha e abandonada eu fui atrás do motivo pra todo o marasmo vespertino do fim de semana. Maldita hora em que eu resolvi ser curiosa, descobri que estavam todos fazendo CATEQUESE! Isso mesmo, aquelas aulinhas de religião que você tem antes de fazer a primeira comunhão.

Eu odiava ficar sozinha e sem nada pra fazer, naquela época eu já era viciada em computador, mas não tanto. Me matriculei na tal catequese, minha mãe achou estranho, meu pai não deu a mínima. Eu não sei onde estava com a cabeça, por que diabos eu não resolvir transformar o dia de catequese em dia do livro? Imaginem só, eu passaria a manhã inteira lendo... NÃÃÃÃÃÃO, eu tinha formiga na bunda, precisava ir pra onde estavam todos e bagunçar até não poder mais. Santa inocência! Eu realmente achei que as pessoas iriam pra catequese pra socializar.

As aulas eram numa escola perto de onde eu morava, e atravessando a rua você chegava na igreja. Meu primeiro dia, fui pra igreja achando que as aulas seriam lá, e lá foi o padre comigo pra escola me mostrar qual seria minha sala. Burra, idiota! Eu era a novata, numa sala com pessoas da minha idade e TODOS os meus amigos ficaram em turmas diferentes por serem mais velhos. "Tudo bem, tem o intervalo!" E o intervalo era lindo, eu me sentia no meu prédio, só não podia correr descalça.

Depois de um tempo eu comecei a perceber que ninguém tava ali pra brincar, algumas pessoas nem mesmo sabiam porque estavam ali. Percebi também que todo mundo achava que era pecado ou coisa do tipo conversar durante as aulas e que talvez eles fossem pro inferno se não obedecessem a catequista. Aquilo foi começando a me irritar, esse negócio de ter que ler a bíblia e saber da caminhada que um bando de gente sem internet fez há mais de 2 mil anos. Pra piorar, depois da aula a gente tinha que ir pra missa. Até que eu descobrir que dava pra fugir, hehehehehehe. Então era assim, quando eu não matava aula eu fugia no caminho pra igreja. Até que eu me toquei de que a "professora" era mais burra que eu.

Adultos NUNCA podem deixar transparecer que são menos inteligentes que uma criança, principalmente se o pirralho tem uma mente maligna que nem eu tinha. E foi aí que eu pensei "Ok, já que estou aqui, vou me divertir com a cara dela". Perguntar, perguntar irrita, principalmente se a pessoa questionada não souber responder. Comecei a estudar, lia tudo que eu via, só pra descobrir falhas nas explicações da catequista e poder deixá-la bem brava. Sádico, eu sei, mas vai explicar pruma criança de 11 anos que certas coisas não são legais. Independentemente de acreditar ou não, eu tava a fim de deixar a pobre coitada em situações complicadas.

Catequista: Mimimi, nós temos que seguir o que Deus diz!
Natália: Isso quer dizer que os índios vão pro inferno? Como é que eles vão seguir o que deus diz se eles não têm bíblia?

Aí ela me mandava pra casa, aliás, era só eu falar sobre ETs, dinossauros, deus ser vingativo e contradições que ela me mandava embora. Até que um dia eu causei um rebuliço na sala de aula:

C: Os 10 mandamentos, blábláblá, não matarás!
Meu conhecimento de sexta série entrou em ação!
N: E a santa inquisição? O inferno tá cheio de bispos e religiosos, então??

Ela ficou pensando, quase que dando uma resposta, mas passou uma formiguinha na frente dela. Pobre formiga, não foi avisada de que aquela senhora destrambelhada daria um passo pra frente, foi pisada. Não me segurei...

N: V-v-você acabou de matar uma formiga com esse seu pé gigante.

E ela ficou ali com cara de pastel enquanto as outras crianças ficaram apavoradas pois mataram baratas, pernilongos, ou sei lá mais o quê. Foi aí que ela me puxou pelo braço, chamou um outro tio pra cuidar da minha turma e foi comigo até a igreja, chamou o padre e contou quão sacana eu era. Inclusive aumentou bastante a história.

"Essa criança é herege!!!!@!" Ela falava isso como paulista fala "meu". Achei que eles fariam uma fogueira ali mesmo e me queimariam enquanto me chamariam de bruxa, ou então fariam que nem fazem com o boneco de Judas, imaginei até um exorcismo. No fim das contas eu fui expulsa da catequese, já que eles chegaram à conclusão de que não sou digna da comunhão. O padre inclusive disse que eu seria excomungada, mas acho que ele tinha que ser papa pra poder fazer isso.

Sabe, eu acho que eles pensam que acabaram com a minha vida! BABACAS!