quinta-feira, junho 21, 2007

Pseudo-existencialismo barato e rotineiro

Você acorda, já passou da hora do almoço e nem vale a pena tomar café da manhã. Se levanta, escova os dentes, lava a cara... Ainda um pouco sonolenta volta pro quarto e senta em frente ao computador pra esperar o gosto de pasta de dente diminuir e poder comer. Liga a música, olha o Orkut e todas as coisas que você vê todos os dias. Aquele gostinho de menta que você tanto gosta diminui bastante e você vai até a cozinha, seria mais fácil pedir pra alguém fazer seu prato, mas você insiste em andar até lá pra não se sentir tão a toa.

Salada, arroz, feijão e um complemento. A mesma coisa de sempre, as vezes muda, mas no geral é sempre a mesma coisa. Você poderia sentar-se à mesa, mas não vai fazer muita diferença, não há alguém pra sentar com você, estão todos ocupados e distantes cuidando de suas próprias vidas. E você volta pra frente da telinha luminosa, come tudo e finge que está vivendo. Você não quer levantar, mas tem que levar seu prato de volta e escovar seus dentes, então o faz contrariada. Pensa em aproveitar que já está no banheiro pra tomar banho, mas decide continuar no seu pijama e volta pro quarto.

Dessa vez você decide tentar ser uma pessoa muito criativa. Pausa a música que está tocando, liga o amplificador, pega o papel e a caneta. E suas músicas são tão ruins que você se frustra. Você tem idéias tão boas, influências melhores ainda, mas sua cabeça está tão cheia de tudo e nada que ambos se misturam e viram uma grande porcaria. Semana passada não era assim, essa semana é. Play outra vez, você olha pro chão e vê suas meias usadas largadas, seu tênis imundo, suas coisas espalhadas. Pensa em arrumar tudo, mas só pensa. Olha novamente e dessa vez vê papéis, lápis e mais uma chance de se sentir uma pessoa criativa. Uma ótima chance, aliás, você desenha bem e sabe disso, mas mais uma vez não faz nada. Pensar é fácil demais, e como, mas você não tem vontade alguma de fazer, e mais uma vez sente toda a frustração de tantos "deixa pra lá".

Você sabe que deve sair de casa e fazer alguma coisa, mas aí você pensa que vai chegar em casa e vai ser tudo a mesma coisa. Semana passada não era assim, essa semana é. Já se passaram duas horas desde que acordou e tudo continua improdutivo. Sai do seu quarto e pensa "Que grande passo!" liga a TV pra assistir as mesmas séries de meia hora que assiste sempre, e o grande passo se torna um carro andando de ré. Ninguém te liga, você mantém seu celular desligado e nunca passa o telefone de casa. As pessoas te irritam, mas você continua achando que elas sempre aparecerão quando você quiser. Melhor ir tomar banho.

Você não gosta de rotina, então dessa vez começa lavando os braços primeiros. Quanta evolução, heim! O banho é a única hora (na verdade 15 minutos) em que você realmente pensa sobre tudo com cuidado. Pensa tanto que chega a conclusão de que gosta do modo como está sua vida. Você não tem muitas obrigações, aliás, não tem nenhuma, é tudo um grande descanso. É, você gosta. Semana passada não gostava, essa semana gosta. Você lava o cabelo e como sempre não se dá ao trabalho de penteá-lo. Pra que? Aliás, por quê? Ele está desbotado, bagunçado e o corte já se perdeu, mas você não se importa. Passa a toalha e deixa secar do jeito que está. Não te agrada, mas não te incomoda; você não vai sair mesmo e se fosse faria tudo do mesmo jeito. Na hora de vestir a roupa acaba vestindo pijama, não o mesmo de antes mas ainda assim um pijama.

Já escureceu e você reparou que não passou o dia inteiro estudando, e você não pretende fazer Direito como meio mundo, aliás, você odeia Direito. Ele gosta, você não. Você não acredita na justiça, você é totalmente descrente com o mundo. Semana passada não era, essa semana é. Você não está afim de conversas pseudo-intelectuais. Você só quer se encher de café e assistir seus filmes. Desliga a música, assiste 3 ou 4 filmes e chega de filmes por hoje. Também não está com vontade de escrever sobre eles. Semana passada estava, essa semana não está. Não quer mais saber de música. Faz outra coisa, qualquer coisa.

Começa conversas frias, repetitivas e sem graça, mas ao mesmo tempo começa outras boas conversas. Todas separadas por telas e vários km. Você podia pegar um metrô e conversar cara a cara, mas ficar debaixo das cobertas com seu pijama é melhor. Mais café, madrugada, a mesma coisa. Amanhã você vai sair, agora você vai tomar outro banho e vai dormir.


Continua...




Voltei, demorei, mas voltei. WGAMO voltou também.